terça-feira, 26 de maio de 2009

Bizet: Sinfonia em Dó Maior, Suite L'Arlésienne - Orquestra da Rádio Nacional da França, Royal Philarmonic Orchestra - Thomas Beecham - EMI Paris

Sir Thomas Beecham desprezava todos os compositores ingleses, exceto Delius, e regeu obras francesas com a finesse de um chef de cuisine com várias estrelas no guia Michelin. Ao passo que outros regentes anglófonos não encontravam nada mais que mesmice e sopros deficientes nas orquestras parisienses, para Beecham elas reluziam como a Torre Eiffel na noite de natal. Herdeiro da patente de um remédio (as pílulas Beecham) ele dissipou sua fortuna para levar música aos seus ingratos compatriotas e passou seus quatro últimos anos como exilado fiscal na França, queixando-se de que o socialismo havia tornado a Inglaterra um lugar "impossível de viver e onde ninguém pode se dar ao luxo de morrer". Os franceses dançavam ao seu ritmo com entusiasmo e ousadia, e Beecham trouxe à luz alguns dos mais frívolos tesouros deles. A Sinfonia em Dó Maior de Bizet, escrita aos 17 anos, foi encontrada somente em 1935, num arquivo do Conservatório de Paris. O já idoso Felix Weingartner dirigiu a estréia mundial, e Walter Legge ofereceu a Beecham a oportunidade de gravá-la, mas ele não se interessou, e o trabalho ficou para o regente auxiliar, walter Goehr. Foram necessários nada menos que vinte anos para Beecham descobrir as delícias desta melodiosa partitura, que estava à frente de sua época, e ele passou a amá-la a ponto de gravá-la duas vezes - em mono e em estéreo.
Não há profundidade discernível nesse exercício acadêmico, nem mesmo no encantador Adágio, mas Beecham deu-lhe tanto de sí que, depois de sua morte, em 1961, a obra praticamente desapareceu do repertório.
As suítes de L'Arlésienne, encomendadas como entreatos para uma peça de Alphonse Daudet, são uma colagem trivial de temas folclóricos que Beecham trata com espanto infantil e com uma chicotada de humor cético. Há uma passagem no início da primeira suíte que ele faz soar como a seção de aposentados de uma banda de metais, uma brincadeira pessoal que poucos além deste filho do norte industrial da Inglaterra poderiam apreciar.
Pela brincadeira e pela malícia, prazer e pompa, não houve melhor intérprete para as frivolidades musicais.

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