A vida musical de Berlim ocidental no pós-guerra, foi reconstruída pelo húngaro Ferenc Fricsay, diretor musical da ópera de Berlim e da orquestra da rádio. Antes da chegada de Karajan, ele foi o principal regente da Deustche Gramophon, realizando emocionantes gravações dos réquiens de Dvorák e de Verdi, das óperas de Mozart e muito mais, especialmente música moderna. Em Bartók, de quem Fricsay foi aluno, a intensidade redobrou.
Géza Anda, outro graduado pela Academia Liszt, de Budapeste, tocou no Festival de Salzsburg todos os anos, de 1952 até sua morte em 1976, uma jornada mais longa do que qualquer outro pianista; entre seus alunos estava o futuro dirigente da DG Andreas Holschneider. Fricsay e Anda exerceram uma influência essencial no curso da gravação de música clássica. Juntos, em perfomances de obras de Bartók, eles foram imcomparáveis, e fizeram mais de 60 apresentações apenas do Concerto Nº 2 para Piano e Orquestra. Por mais que reverenciassem o compositor, Fricsay e Anda adotaram uma abordagem perigosamente flexível para a música, alargando os andamentos um do outro, um disparando na frente, enquanto o outro, medrosamente, se atrasava. Esta angularidade, húngara até os ossos, foi balanceada pela serena ternura nos movimentos lentos, lânguidos como uma noite de verão em Szeged. O contraste e o conflito mantêm a atenção, equilibrando-se tal como no gume de uma faca. No início do Concerto nº1, enquanto Anda expõe seu tema, Fricsay distrai os ouvidos do público com comentários orquestrais tipicamente bartokianos, permitindo assim que as selvagerias noturnas invadam nossa segurança. O Concerto nº2 parece ainda mais perigoso, e o nº3, embora classicamente agradável, por vezes deixa emergir medos e lugares escuros. Fora do alcance do público, segredos são compartilhados em um impenetrável dialeto de expatriados.
Mesmo conhecendo as obras (e um ao outro) intimamente, Fricsay e Anda precisaram de nove sessões completas para gravar os dois últimos concertos, lutando para chegar a soluções inatingíveis. Fricsay sabia que estava condenado pelo câncer e que estes seriam seus últimos trabalhos. Cada colaboração entre eles, no dizer de Anda, marcou "a renovação de uma relação de amizade que era quase a de dois irmãos". Os discos receberam uma batelada de prêmios e fixaram Bartók, que nunca foi o mais fácil dos compositores, permanentemente no coração do repertório de concerto.
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Um comentário:
Tenho ouvido durante toda essa semana essa gravação, que para mim é a mais sensacional de todas as outras que existem no mercado.
Particularmente eu prefiro o concerto n1. E depois de ler o texto do blog é bem possível chegar à imagem dos debates que cercaram a gravação dos dois outros concertos.
É impressionante lembrar que Bartók compôs o terceiro concerto depois de tantos anos que fez o primeiro; nesse momento já no hospital e sem dinheiro...
Obrigado pela postagem, aquela luz!
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