Dmitri Shostakovich teve sorte com seus solistas. Dois concertos para violino foram escritos para David Ostraich, amigo próximo e artista inspirado; os concertos para violoncelo foram feitos para Mstislav Rostropovich, igualmente eloqüente em sua defesa. Em ambas as ocasiões, o primeiro concerto foi superior ao segundo.
Depois que a morte de Stalin relaxou a guerra fria, a América estava ansiosa para ouvir os artistas soviéticos, e as gravadoras interessaram-se em registrá-los em novas obras. Ostraich levou o Concerto para Violino ao Carnegie Hall dez semanas após estreá-lo em Leningrado. Ele o descreveu como "uma das criações mais profundas do compositor" e tocou com energia explicitamente nervosa, aludindo ao período do "Grande Terror", durante o qual ele ficou guardado no fundo de uma gaveta até que Shostakovich ousasse mostrar-lhe o manuscrito. O regente, Dimitri Mitropoulos, acabara de fazer a estréia americana da Sinfonia nº10 do compositor e parecia ter um conhecimento intuitivo das mensagens codificadas contidas em sua obra. A orquestração dispensa os trompetes e trombones, como se negasse a preferência do Kremlin pelo bombástico. Ela destacava a voz melancólica do violino solitário contra um rumoroso pano de fundo, para depois, no segundo e quarto movimentos, dançar ironicamente ao redor de tiranos vaidosos. Rostropovich apresentou o Concerto para Violoncelo, mais suave, com Eugene Ormandy e a Orquestra da Filadélfia, três anos depois, diante de delegações de compositores americanos e soviéticos convidados com o objetivo de simular a harmonia entre as grandes potências. Sua interpretação se regozija em melodioso romantismo. Novamente, a tinta do concerto estava fresca, pois a estréia havia sido feita havia apenas um mês em Moscou. Rostropovich avança elegantemente através das passagens mais difíceis; seus momentos mais ferventes estão no Moderato do segundo movimento, onde a dor está profundamente enraizada. Shostakovich sentou-se na platéia e, mais tarde, na sala de gravação. A sessão de fotos de Don Hunstein mostra-o alegre e relaxado, quase dançando no palco, em comunhão com solista e regente. Rostropovich explicaria mais tarde que esse concerto está "impregnado do sofrimento de todo o povo russo".
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