quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ravel: Daphnis et Chloé - Orquestra Sinfônica de Londres - Pierre Monteux - Decca, London Kingsway Hall 27-28 de Abril de 1959.

Pierre Monteux foi um dos músicos mais discretos: nunca teve a pose de um pavão no pódio. Entre as estréias que ele regeu estão "Petrushka" e "A Sagração da Primavera", de Stravinsky e "Jeux" de Debussy; foi diretor das orquestras de Boston, Paris e São Francisco.
Aos 83 anos, desanimado com a inconsistência das orquestras francesas, Monteux abraçou um desafio em Londres, onde três grandes orquestras estavam competindo por datas de gravação com a brilhante Orquestra Philarmonia, da EMI. Monteux entrou em acordo com a Orquestra Sinfônica de Londres e, no verão de 1958, tornou-se regente principal - um contrato de 25 anos, com opção de renovação. Seu otimismo era inquebrantável, assim como seu sotaque francês era irresistível. Contra o estruturalismo monolítico de Otto Klemperer na Philarmonia, Monteux introduziu uma sensibilidade para a graça e o gestual, para o refinamento do detalhe dentro da magnificência do edifício musical. O grande balé de amor de Ravel foi uma obra trazida à existência por Diaghilev em 1912. Ele arranca uma luz debussiana das cordas sedutoras e uma sedutora cintilação das madeiras. O despertar, no início da terceira cena, na interpretação de Monteux, é a antítese de Wagner: um amanhecer de clareza translúcida que jamais poderia ter sido visto por alguém que não fosse um francês do Mediterrâneo.
Tocar era sempre divertido quando Monteux estava por perto, e vários músicos procuravam o maestro para aulas particulares de regência. O primeiro trompista, Barry Tuckwell, e o líder dos segundos violinos, Neville Marriner, posteriormente tiveram carreiras de sucesso como regentes. O regente seguinte da Orquestra Sinfônica de Londres, Andre Previn, foi outro de seus alunos. A influência de Monteux sobre o disco foi maior do que os poucos que ele gravou.
A Decca concordou em gravar o não-comercial Daphnis et Chloé com a condição de que todo o balé seria condensado em um só LP. Monteux, sem se perturbar, acomodou a peça em 50 minutos, deixando espaço para a Pavane pour une infante défunte. Ele foi, nas palavras do produtor John Culshaw, a antítese da escola "um orgasmo por minuto de regência".

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