O maior concerto inglês foi gravado de maneiras diferentes por Casals, Fournier, Tortelier e Rostropovich, sem contudo encontrar um intérprete definitivo em outras terras. Numa tarde quente de Agosto de 1965, uma garota de vinte anos, com jeito simples, sorriso maravilhoso e cabelos loiros até a cintura, subiu no palco do Kingsway Hall e se juntou a Sir John Barbirolli e a Orquestra Sinfônica de Londres para uma gravação para a EMI. A orquestra estava, por motivos internos, hostil em relação a jovens pretendentes. O regente estava empenhado em apoiar sua protegida estreante.
Depois de duas sessões tensas e desagradáveis, com metade da obra gravada, Jackie pediu licença e foi até a farmácia comprar remédios para dor de cabeça. Quando ela voltou, encontrou a estúdio cheio de curiosos. Havia circulado a notícia de que um prodígio estava acontecendo, e todos os músicos próximos a uma estação do Metrô correram para lá, na esperança de assistir o Finale. Poucas sessões de estúdio contaram com tamanha platéia. Em vez da maestria e possessividade com que Casals abordou essa obra, Du Pré inicia o concerto suave e refletidamente, ficando mais expansivo até que a paixão domine completamente, subindo e descendo em busca da catarse. Elgar infundira em seu concerto, escrito ao final da Primeira Guerra Mundial, um sentimento de pesar por um mundo destruído. Du Pré encontrou dimensões mais jovens - angústias de amor, medo da morte - e varreu tudo o que fora feito antes dela, nessa obra que dá ao solista apenas cinco compassos de descanso do início ao fim. Trata-se de uma performance musical definitiva - se é que jamais houve alguma. Rostropovich, ao ouvir essa gravação, excluiu a peça do seu repertório. A geração seguinte de violoncelistas fez dela seu modelo.
Du Pré veio a conhecer uma dupla celebridade - por mérito próprio e como esposa de Daniel Barenboim, com quem casou em Israel, logo após a Guerra dos Seis Dias. Eles chegaram a gravar o concerto juntos em Filadélfia em 1970, mas os pressentimentos de uma terrível doença - ela abandonou a carreira com esclerose múltipla em 1973 e morreu em 1987 - prejudicaram a segunda versão. O disco de 1965 (ao lado da inspiradora versão de Janet Baker de Sea Pictures) foi o momento mais alto de Jacqueline du Pré. Ao ouvir a gravação pela primeira vez, ela debulhou-se em lágrimas e disse: "Não foi nada disso o que eu quis dizer."
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