segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mozart: Concertos para piano 22-25 - Alfred Brendel - Orquestra Pró-Música de Viena - Paul Angerer - Vox - Viena, 1966.

Alfred Brendel, Pianista lutador na Viena dos anos 50, conseguiu se lançar por intermédio de um pequeno selo americano. A vox, de propriedade de George de H. Mendelshon-Bartholdy, era uma empresa minúscula que dava emprego aos músicos da Filarmônica de Viena, usando nomes falsos para fugir de restrições legais, e pesquisava as salas de concerto em busca de talentos, o que havia de sobra. Brendel foi posto a trabalhar em "Quadros de Uma Exposição", de Mussorgsky, e "Islamei" de Balakirev, um risível par de peças para um artista de toque germânico leve e preciso, ex-aluno do severo Edwin Fischer. A este lançamento seguiram-se as transcrições de Lizst de melodias populares de ópera, uma espécie de parada de sucessos de Liberace. Como ambos os discos venderam mais do que o esperado, foi permitido a Brendel abordar Schubert e Beethoven em ciclos substanciais. As gravações que fizeram sua fama, no entanto , foram as dos concertos para piano de Mozart, tocados de forma tão leve e rápida que rivalizaram com as "interpretações de época", então uma novidade em voga. O regente foi Paul Angerer, um compositor local. Brendel introduziu uma lacônica angularidade que tratava a música com respeito, mas também, por vezes, com um sorriso aberto e contagiante que, no Allegro do Concerto em Mi Bemol, torna-se uma maldisfarçada gargalhada. A empáfia de Mozart e seu desprezo pelos compositores menos dotados surgem claros na interpretação de Brendel. Sem falsa reverência ou virtuosidade exibicionista, ele descortina um Mozart vivo e pulsante que cria novas obras como um ataque periódico contra a mediocridade reinante. A Filarmônica de Viena (com outro nome) responde intuitivamente a esta abordagem, e o diálogo interativo é consistentemente interessante - ainda mais nos concertos pouco conhecidos do que nos trabalhos triviais.
Brendel, juntamente com outra pianista da Vox, Ingrid Haebler, foi assimilado pela Philips, para a qual ele gravou todos os concertos de Mozart novamente, alguns deles duas vezes, com regentes mais competentes, melhor som e toda a parafernália da indústria de gravação. Ele herdou o manto de Artur Schnabel como pianista-filósofo, um pilar do mundo da música, e foi um poeta com trabalhos publicados. Seus primeiros discos com obras de Mozart, com as capas extravagantes da Vox, parecem pueris em comparação com os esplendores que se seguiram, mas Brendel permitiu que eles continuassem em circulação, o que dá uma idéia da sua integridade.

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