segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mahler: Das Lied Von der Erde (A Canção da Terra) - Christa Ludwig, Fritz Wunderlich - Orquestra Philarmonia - Otto Klemperer EMI-Londres

Mahler não viveu o bastante para ouvir A Canção da Terra. É tocável?, perguntou ele a Bruno Walter. "Será que as pessoas não vão querer fugir ao ouvi-la?" Foi um trabalho angustiado, motivado pela morte de uma filha ainda bebê, pela perda de seu posto em Viena e pelo agravamento de seu estado de saúde. Walter dirigiu a estréia em 1912, um ano após a morte de Mahler, e fez as duas primeiras gravações, a primeira em Viena, em 1936 (nenhum cantor austríaco participou nessa ocasião, por medo das sanções dos nazistas) e novamente em 1952, com o tenor austríaco Julius Patzak e a meio-soprano britânica Kathleen Ferrier, gravação esta que marcou o começo da reabilitação de Mahler no pós-guerra. Mais do que qualquer outro regente, Walter exsuda autoridade e serenidade nessa obra, uma garantia de que nem tudo estava perdido.
Klemperer, o outro acólito do compositor, escolheu uma abordagem oposta. Contestador onde Walter era condescendente, avesso a qualquer desejo de agradar, ele esperou doze anos até encontrar o par ideal de cantores e uma interpretação apropriadamente rigorosa. Sua versão chocou os críticos londrinos, um dos quais, John Amis, declarou-a "tão determinantemente anti-Walter que evita qualquer sentimento". Isso, entretanto, era o que Klemperer defendia: uma obra deve ser aberta à contradição, e sempre havia mais aspectos em Mahler do que aqueles que qualquer músico mortal poderia monopolizar. Ele regeu as seis canções de modo convincente e sem reserva sonora. O som é mais anguloso do que o creme vienense de Walter, com o fogo diminuído para uma temperatura mais adequada. A intensidade dos poemas chineses intensifica a aura de alienação. Sugestões de alegria e consolo são ilusórias: "Escura é a vida, é a morte." A natureza, em toda a sua beleza, é algo que todo homem deve deixar para trás, e cada frase flutuante do oboé ou da clarineta é uma dor provocada pela futura partida. Klemperer mantém seu controle implacavelmente até cerca de dois terços da Abschied (Despedida), quando então permite que as emoções fluam livremente. A catarse originada da supressão prolongada é fisicamente arrebatadora, como Klemperer sabia que teria que ser.
Não seria fácil conseguir reunir os dois solistas em um estúdio, pois suas agendas eram cheias; a solução foi gravá-los separadamente. Christa Ludwig foi a mais inteligente entre as meio-sopranos, e Fritz Wunderlich estava chegando à fama mundial. Dois meses depois desta gravação, ele se envolveu em um acidente doméstico com uma arma de fogo e morreu antes de o disco ser lançado. Tingida de drama, esta versão da Canção da Terra adquiriu uma nobreza estóica que acabou por tornar-se, com o tempo, a norma interpretativa.

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