Arturo Toscanini, no início da década de 1950, estabeleceu as sinfonias de Beethoven como o ponto alto na carreira de um regente e a pedra fundamental de qualquer coleção clássica. O teto foi rapidamente rebaixado pela imitação em massa. Karajan, que gravou o ciclo energicamente com a Orquestra Philarmonia, da EMI, mais ou menos na mesma época, repetiu o trabalho mais quatro vezes. Seu ciclo em Berlim pela DG, gravado em 62, quando o muro foi levantado, definiu uma certa oposição materialista tanto ao comunismo quanto ao desenfreado consumismo americano. Karajan aspirava, em seus ataques beethovenianos, um padrão ainda mais alto em perfeição sonora e provas do seu domínio comercial. Otto Klemperer, em Londres, rebateu o efeito Karajan com verdades espirituais de uma época anterior, refletindo com seus andamentos recalcitrantes a rabugenta misantropia do compositor. Os egos se inflaram de tal forma que qualquer regente com um contrato exigia um ciclo próprio. Haitink, Solti, Josef Krips e André Cluytens foram os primeiros a largar, seguidos por Bernstein (duas vezes), Vaclav Neumann, Kubelik, Böhm, Wolfgang Sawalisch, Colin Davis, Neville Marriner, Walter Weller, Charles Mackerras, Gunter Wand e Kurt Masur. Abbado gravou o ciclo duas vezes, assim como seu arqui-rival, Muti. Christopher Hogwood deu início a ciclos com conjuntos de "época", seguidos por Gardiner, Norrington, Roy Goosman e a caixa de discos que vendeu um milhão de cópias, sob a regência de Harnoncourt. As prateleiras se curvaram com o excesso de Beethoven, e os inflacionários maestros ainda queriam mais.
Simon Rattle ensinou noções de música antiga para a Filarmônica de Viena - novos truques para cães velhos - numa satisfatória compilação híbrida. Daniel Baremboim tentou aplicar maneirismos de Furtwängler à Staatskapelle de Berlim com efeitos igualmente variáveis. A interpretação virou um pastiche. Finalmente, a paciência se esgotou, e os selos fecharam as janelas. Rattle e Baremboim supostamente seriam os últimos, sustentados por sua celebridade e pela curiosidade do público em saber o que eles poderiam acrescentar ao cânone. Então, a partir de um selo de porão disposta a fazer barganhas, veio uma brisa fresca. David Zinman (um regente americano há muito subestimado, que havia tarbalhado em Baltimore e Zurique) ficou cativado pela restauração acadêmica dos manuscritos de Beethoven, preparada pelo musicólogo britânico Jonathan del Mar, com meticulosa atenção aos documentos do compositor. Zinman requisitou os direitos para a primeira gravação, em meio a um considerável ceticismo. Todas as dúvidas foram dissipadas pela abertura da Eróica, com seus andamentos rápidos e texturas transparentes, se comparadas tanto com Rattle como com Baremboim, ou com qualquer versão com instrumentos de época. Nas mãos de Zinman, ela se tornou, entre episódios comoventes e espirituais, música para dançar.
Seria exaustivo listar os exemplos de excelência, pois eles são intermináveis. A abertura da Quinta Sinfonia tem o impulso mais natural desde Kleiber; a Pastoral é irresistivelmente sedutora; a Sétima é magnificamente estruturada; e o Adágio da Nona tem uma qualidade camerística de extraordinária intimidade. Estas interpretações passam a idéia da pureza da fonte e são tocadas com brio e surpresa que fazem arregalar os olhos em uma acústica digital cristalina. Não houve nenhuma vaidade neste projeto, nenhum ego presunçoso de maestro. Zinman dirigiu diretamente a partir da partitura, com poucas superposições pessoais. Del Mar enumera os pontos em cada sinfonia nos quais o ouvinte pode realmente ouvir a diferença - o que foi uma novidade emocionante.
Muitos dos músicos da orquestra de Zurich têm sobrenome tchecos e húngaros, compartilhando uma herança centro-européia com a Filarmônica de Viena. Este é um Beethoven realizado por especialistas, fácil de ouvir, atual em sua essência musicológica e fresco como uma brisa alpina depois da chuva. É uma raridade clássica e um lançamento genuinamente novo.
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