terça-feira, 28 de julho de 2009

Bruckner: Sinfonia nº 5 - Royal Scottish Orchestra - Georg Tintner - Naxos - Glasgow, 1996.

Um novo selo clássico apareceu em 1988, vendendo CDs a um terço do preço usual, fazendo deles um artigo barato. As orquestras eram desconhecidas, e os regentes e solistas, obscuros. Os discos vinham de Hong Kong e pareciam voltados para o crescente (e algo indiscriminado) gosto dos Tigres Asiáticos pela cultura ocidental.
Os críticos receberam a Naxos com coletivo desdém. O que mudou o tom foi um ciclo de sinfonias de Bruckner que trouxe reminiscências dos velhos mestres: Klemperer, Furtwängler, Karajan. Logo no compasso inicial da Quinta Sinfonia de Bruckner, o fraseado perfeito, o ritmo idiomático e a paixão resoluta anunciaram uma interpretação de indiscutível autoridade.
O regente, Georg Tintner, era um nome desconhecido mesmo para os seguidores obsessivos de maestros. Expulso de Viena em 1938, onde havia regido a Ópera Popular, Tintner vagou sem resultados pela Nova Zelândia e pela Austrália, impressionando os músicos com seu rigor e ofendendo os agentes com uma aderência rígida a princípios. Já com mais de setenta anos, ele havia encontrado alguma satisfação com uma orquestra na província da Nova Escócia, no Canadá, mas sua ambição de progresso parecia fadada ao fracasso, quando um encontro com Klaus Heymann, o dono da Naxos, colocou as engrenagens para funcionar. Heymann havia começado a gravar sistematicamente o repertório sinfônico, um compositor após o outro. Ele havia contratado dois regentes alemães e a Orquestra Sinfônica da Nova Zelândia para a obra de Bruckner, mas nenhum dos maestros conseguiu se entender com os músicos, que estavam em um período de rebeldia. Tintner viajou para tentar a Sexta e a Nona Sinfonias de Bruckner na Nova Zelândia, mas os músicos se comportaram mal e as sessões tiveram que ser canceladas. Heymann procurou várias orquestras britânicas, mas nenhuma delas estava disposta a arriscar sua reputação com um regente desconhecido.
Foram os escoseces que quebraram o gelo, acolhendo o fervor místico de Tintner, que de certa forma refletia a própria ingenuidade camponesa de Bruckner. A interpretação de Tintner, entretanto, era moralmente profética, concebida numa escala grande como a de uma catedral gótica. Depois do Adágio de abertura, o primeiro movimento, o Allegro, pressagia o sofrimento e a redenção humanos; os movimentos intermediários são uma tela fértil de civilização rústica, e o finale, nesta interpretação magistral, costura não só os temas díspares de uma obra de 80 minutos de duração, mas também, em ecos fugazes, a história da música, de Bach a Beethoven. Ela realmente soa como se Tintner tivesse esperado a vida toda para realizar essa gravação. A orquestra escocesa, em ótima forma, completou o ciclo nos dois anos seguintes, com exceção de três obras que foram destinadas à Orquestra Sinfônica Nacional da Irlanda. A aclamação só aumentou a cada novo lançamento. Um conjunto das missas de Bruckner estava planejado, e a Ópera Nacional Inglesa andava sondando Tintner para Parsifal quando o regente, aos 82 anos de idade, se jogou de uma escada enquanto sofria os tormentos de um câncer terminal. Seu ciclo de Bruckner vendeu meio milhão de cópias, muito mais que qualquer outro antes ou depois dele.

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