Em meio ao colapso da indústria da gravação clássica, dois executivos discutiam sobre seu incerto futuro. Paul Moseley, homem de marketing da Decca, encontrava-se com Chris Craker, produtor de cerca de 400 discos, cujo pequeno selo, Black Box, tinha sido arrematado por uma grande empresa. E o que seria dos artistas? E todas aquelas estrelas em ascenção que foram amplamente promovidas pelos grandes selos e estavam agora, no meio da vida, jogadas num monte de sucata? Certamente um nome famoso deveria ter importância de alguma forma na nova economia.
Para seu empreendimento, chamado Onyx, Cracker e Moseley gravaram Victoria Mullova (ex-Philips), Barbara Bonney (ex-DG) e o quarteto Borodin (ex-EMI) em música que eles nunca tinham tocado antes. Mullova atacou Vivaldi com os cabelos esvoaçando sobre os rostos de uma selvagem orquestra com instrumentos de época. Bonney cantou Bernstein. O Borodin gravou um recital em comemoração ao seu sexagésimo aniversário. Mas a grande cartada foi Pascal Rogé, que, dispensado pela Decca, gravou os prelúdios de Debussy, que lhe haviam ocupado a mente desde os oito anos. Rogé era o arquetípico mestre de escola francesa, herdeiro da elegância de Cortot e da sutileza de Casadesus. Estilo foi o elemento de importância em seus prelúdios. Um fio de cabelo fora do lugar, um vestígio de sabor errado, e todo o efeito poderia ser arruinado. Cada prelúdio era um prato distinto, quente ou frio, sombrio ou "bien amusant".
Aliviado da expectativa de grandes vendas, Rogé tocou como quis, focado no texto e subtexto de um conjunto de peças que raramente é tocado na íntegra. Os Prelúdios, disse ele, foram escritos para o executante: "Não consigo imaginar o que um ouvinte pode desfrutar, comparado com o prazer voluptuoso de criar todos esses sons, perfumes, cores. Algumas vezes sinto-me culpado por experimentar todos esses prazeres em público. É quase indecente".
Do andamento "lento e grave" das danças délficas ao toque "animado" do vento nas planícies, o pianista preocupa-se apenas com a imagem e o estado de espírito. A "calma profunda" de uma catedral submersa é trazida de maneira extraordinária à mente; a homenagem satírica a Samuel Pickwick é tocada impassivelmente e, por isso mesmo, fica duas vezes mais cômica.
Este foi, por várias razões, um marco na história da gravação clássica, com o mérito musical de ter sido um indicador de como deveria ser a transmissão da música na era pós-gravação - um modelo para projetos modestos de grandes artistas, uma fina, porém resistente, corrente de continuidade. Antes que o disco fosse lançado, Chris Craker conseguiu um alto posto na Sony-BMG e o selo Onyx entrou para o sistema de distribuição das grandes gravadoras. Foi um vislumbre, ou, mais possivelmente, uma quimera de um novo começo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário