Para uma nação pequena, os tchecos são excepcionalmente dotados de grandes compositores, mas a sinfonia que mais os agita vem de um mestre menor. Joseph Suk foi um violinista que se casou com a filha de Dvorak, Otilie. Quando seu sogro morreu, em Maio de 1904, Suk, respeitosamente começou a compor um réquiem, dando-lhe o nome do anjo Asrael, aquele que acompanha as almas até o Paraíso. Em meio à composição do quarto movimento, Otilie ficou doente; ela acabou morrendo em Julho de 1905. Suk rasgou o Adágio e escreveu um novo: "Para Otilka".
Asrael é um duplo lamento, um sepultamento de esperanças. Surda de tristeza, contida em raiva, a sinfonia continha para os tchecos tudo o que eles não podiam expressar durante as duas guerras mundiais e ocupações por potências estrangeiras. No campo nazista de Theresienstadt e nos campos de trabalho soviéticos, compositores oprimidos citavam temas de Asrael para apoiar as almas condenadas ao redor deles. A glória da peça é que ela se recusa a ficar atolada na desgraça e escapa rapidamente para as terras altas da superação. Solista e camerista de sucesso, Suk conhecia bem o repertório clássico, o suficiente para citar com propriedade Verdi, Beethoven, Brahms, e inevitavelmente, Dvorak. Mas a peça evita a colcha de retalhos, e seu Finale, um retrato amoroso de Otilie, retrabalha texturas brucknerianas de forma totalmente original.
Vaclav Talich, amigo próximo de Suk, regeu a Filarmônica tcheca de 1919 a 1941. Tal como Wilhelm Furtwangler em Berlim, ele permaneceu no posto durante os anos de poderio de Hitler, e mais tarde sofreu por isso. Os comunistas o baniram para Bratislava, onde ele fundou a Filarmônica Eslovaca. Nas trevas stalinistas de 1952, ele foi trazido de volta a Praga para reger Asrael. As prisões eram corriqueiras, e homens eram enforcados sob falsas acusações de traição. Sem exagerar na emoção da obra, Talich conseguiu descortinar de forma nobre o sofrimento e a esperança de uma nação, numa execução que capta um momento terrível e preserva sua solene dignidade para sempre.
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