domingo, 17 de maio de 2009

Wagner, Tristan und Isolde - Kirsten Flagstad, Ludwig Suthaus, Blanche Thebom -Orquestra Philarmonia - Wilhelm Furtwängler

Esta gravação essencial quase não foi feita. Furtwängler disse à EMI que nunca mais trabalharia com o insidioso produtor Walter Legge, a quem acusava de ter sabotado sua carreira para promover Karajan. Flagstad, a grande intérprete de Isolda, disse à gravadora que não gravaria sem Furtwängler, em quem confiava implicitamente, ou sem Legge, que discretamente se propôs a substituir os dois dós agudos do segundo ato, que ela não conseguia alcançar, pela voz da esposa dele, Elizabeth Schwartzkopf. O impasse era insuperável, e o tempo passava rápido. Flagstad estava com 57 anos e já havia anunciado sua retirada dos palcos.
Chegou-se então a um acordo. Legge pediu desculpas por escrito à Furtwängler por quaisquer danos causados pelos motivos "alegados". O regente, por sua vez, reconheceu a excelência da orquestra londrina de Legge e voltou atrás quanto à sua exigência de gravar em Berlim ou em Bayreuth. O elenco foi rapidamente formado. Tristão e Brangäne foram segundas opções - Lauritz Melchior foi considerado velho demais para o papel de Tristão e Martha Mödl estava prestes a cantar Isolda para o impronunciável karajan. Furtwängler enxertou Suthaus, a quem havia dirigido como Tristão em 1947; Flagstad recomendou Thebom, uma americana de origem sueca, sua protegida. Josef Greindl e Dietrich Fischer-Diskeau cantaram ótimos Rei Mark e Kurnewal. Os holofotes, no entanto, ficaram para o regente e o soprano. Flagstad canta uma Isolda capaz de derreter um iceberg, mais carinhoso do que erótico; seu amor por Tristão se aprofunda com a maturidade. Seu som enche o espaço como uma inundação, não deixando espaço algum para a descrença. Furtwängler, intelectualmente desconfortável com a indústria da gravação, jamais regera uma ópera em estúdio. Ele reprovou a sala do subsolo e o ruído dos trens passando ao lado, o que não o impediu de conduzir com tranquila segurança e assumir inspirados riscos; sua saúde estava abalada, e ele vivia ansioso por deixar um legado de sua interpretação.
Quando tudo terminou, ele colocou um braço em volta dos ombros de Legge e disse: "Meu nome será sempre lembrado por isso, mas é o seu que deveria ser." Legge revelou, em caráter privado, que este foi o único elogio que ele recebeu do maestro em quarenta gravações que fizeram juntos. Sobravam duas horas no final da última sessão, e Legge sugeriu que Furtwängler podia usá-las para gravar as "Canções de um viajante", de Mahler, com Fischer-Diskeau. O regente voltou-se bruscamente e disse: "Eu prometi Tristão, e é apenas isso que você vai ter." Eles nunca mais voltaram a trabalhar juntos.

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