domingo, 17 de maio de 2009

Strauss: As quatro últimas canções - Lisa della Casa, Orquestra Filarmônica de Viena, Karl Bohm - Decca, Viena Musikverein, Junho de 1953.

As quatro últimas canções de Richard Strauss - uma quinta apareceu depois que a edição foi impressa - tiveram sua estréia no Royal Albert Hall em 22 de Maio de 1950, oito meses depois da morte do compositor, na voz da fenomenal Kirsten Flagstad, regida por Wilhelm Furtwängler. Seguiram-se alguma confusão e controvérsias. Flagstad cantou as peças na ordem em que Strauss as escreveu, como folhas caindo de um carvalho no inverno. Os editores, Boosey & Hawkes, trocaram a ordem para começar com "Früling" (primavera), uma canção com muita cadência.
Sena Jurinac cantou na primeira gravação comercial para a EMI (Fritz Brusch regeu em Estocolmo), seguindo a ordem impressa e com algumas incertezas na interpretação. A gravação da Decca foi a segunda e teve méritos adicionais. A orquestra havia sido regida pelo próprio Strauss no passado, e a soprano suiça Lisa della Casa possuía uma serenidade vocal que, mais do que a magnificência inquebrantável de Flagstad, evocava o modo de cantar da esposa de Strauss, Pauline, sua inspiração ao longo de toda a vida. O regente foi Karl Böhm, parceiro do compositor no jogo de cartas, e o estado de espírito é mais ensolarado que comemorativo. Os andamentos são rápidos, e a respiração natural. O que fica mais evidente é que a ordem em que as canções são interpretadas difere das que foram adotadas tanto por Flagstad quanto por Boosey, começando logicamente, com "Beim Schlafengehem" (indo dormir), um canto de despedida de um artista descomplicado que olha em retrospectiva para uma vida que ele gozou plenamente e está pronto a deixar com um sorriso. "September" vem em seqüência, seguida por "Frühling" e, finalmente, "Im Abendrot" (no lusco-fusco). Della Casa canta sem afetação operística, como se estivesse se lembrando, sozinha, de um querido avô, e os solos de violino executados pelo spalla Wolfgang Scheneiderhahn tem a doçura de um terno pesar. O produtor da Decca era Victor Olof, às vésperas de uma escandalosa deserção para a EMI. O som ficou exemplarmente balanceado para uma gravação mono. Várias cantoras gravaram esse ciclo depois - Schwarzkopf (com Szell) Lucia Popp (Tennstedt) Jessye Norman (Masur) Karita Mattila (Abbado) - mas Della Casa foi, em disco, a primeira a dar a essas canções crédito e encanto.

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