domingo, 17 de maio de 2009

Puccini: Tosca - Maria Callas, Tito Gobbi, Giuseppe di Stefano - Coro e Orquestra do Teatro alla Scala - Victor de Sabata - EMI

A Tosca pode ser a ópera mais continuamente encenada, mas na mente do público, só existe uma intérprete para o papel-título: Maria Callas, cujas voz e natureza nunca foram das mais suaves, deu veracidade a um enredo sórdido e ferocidade à sua apoteose. Molestada pelo torpe Scarpia, que havia prendido e torturado seu marido artista, Tosca pega uma faca de cozinha e o mata. Segundo reza a lenda, Callas, no palco, usou a faca de plástico com tanta força que fez Gobbi, seu parceiro habitual, sangrar, para espanto dos espectadores que pensaram que ela realmente o tinha esfaqueado.
A gravação, com Giuseppe di Stefano como um heróico Caravadossi e o grupo do Scala sob a direção austera de Victor de Sabata, foi feita no início da carreira de Callas, o que explica o fato de a cantora ter seguido a orientação de um regente. De Sabata ensaiou com ela a ária final do segundo ato durante meia hora, fazendo-a cantar o verso final umas trinta vezes, até conseguir dela um resmungo grave, um som agourento, de gelar a medula. A cena do "Te Deum" precisou ser ensaiada por seis horas até De Sabata ficar satisfeito. Walter Legge, da EMI, ficou sentado no fundo da platéia e deixou que os acontecimentos tivessem livre curso, selecionando depois as melhores tomadas ao longo de quilômetros de fita, depois que os músicos tinham ido embora. A voz de Callas, cuja beleza jamais foi convencional, possuía uma dimensão teatral que pôde ser sentida melhor em disco que no palco. Em "Visi d'Arte", de joelhos diante de Scarpia, ela cai em prantos de maneira forçada, mas consegue convencer o ouvinte de sua agonia mais eficazmente do que a perfeita afinação de outras cantoras. Callas, em disco, sempre incorporou suas personagens. O retrato pode não ser belo, mas é brutalmente real.
A Tosca foi o último papel que ela cantou no palco, antes de se aposentar, em 1965, ferida no orgulho e no coração, quando o armador grego Aristóteles Onassis a deixou para casar-se com Jacqueline Kennedy. No que concerne ao sucesso em disco, nenhum outro artista jamais se igualará a ela. No século XXI, três décadas após sua morte, Callas ainda vende mais discos que qualquer soprano viva.

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