domingo, 17 de maio de 2009

Tchaikovsky: Sinfonias 4,5,6 - Orquestra Filarmônica de Leningrado - Kurt Sanderling / Evgeny Mravinsky - Deustche Gramophon -Viena Musikvereinsa

Sob o comunismo, foi negado ao mundo ver e ouvir os melhores grupos musicais da Rússia. Quando a proibição de viajar foi levemente relaxada, no ano em que Khrushchev denunciou Stalin, Viena recebeu uma visita da Orquestra Filarmônica de Leningrado, sob a direção de seu magérrimo regente principal, Evgeny Mravinsky, e de seu assistente, o exilado alemão Kurt Sanderling.
Subnutridos, rodeados de espiões e preocupados com suas famílias na Rússia, os músicos não puderam ter nenhum contato direto com seus colegas vienenses ou com o público, e não ousavam sorrir para os frequentadores dos concertos, no saguão, por medo de serem detidos e interrogados pela temida KGB. Seu único meio de expressão era a música, e essa foi brilhantemente expressiva. O plangente destaque sonoro das madeiras confirma uma tradição que remonta a Tchaikovsky, cujas obras principais foram levadas pela primeira vez à público por essa orquestra. A total familiaridade com as obras está estampada nessas execuções, a tal ponto que os músicos parecem poder tocar no escuro, ou sem as partituras. Sanderling abre o disco com uma imponente Quarta Sinfonia, que é mais narrativa e menos bombástica do que de hábito. Mravinsky, que nunca tinha sido ouvido na Europa Ocidental, dirige a soturna Quinta Sinfonia e a lamentosa Sexta (Patética) com sóbria humanidade, aludindo a um sofrimento que era compartilhado por todos no planeta. Os solos de fagote na Quinta demarcam a diferença cultural entre a tristeza russa e a vienense; o finale da Patética é comovedoramente trágico. Nada deste tipo havia sido gravado ainda, e Elsa Schiller, da DG voou para Moscou a fim de negociar uma permissão para o lançamento, num clima de discreta distensão internacional. Mas o degelo durou pouco, e o mesmo aconteceu com esse lançamento. Quatro meses depois, forças soviéticas esmagaram a Primavera de Praga, e a Guerra Fria se aprofundou mais uma vez.
Quatro anos passariam até que o Kremlin permitisse à Mravinsky e sua orquestra que viajassem até Londres e regravassem as sinfonias em estéreo. As sessões tiveram lugar no Wembley Town Hall, longe do coração da cidade, e a execução não tem o mesmo brilho da outra. Os concertos de Viena tiveram a emoção da revelação.

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