O século da gravação foi marcado por três grandes trios com piano. O Beaux Arts é o de mais longa duração: três estudantes que se conheceram no festival de Tanglewood, em 1955, continuaram tocando, com algumas alterações na formação por meio século. O "trio de um milhão de dólares" foi o mais rico: Jascha Heifetz, Artur Rubinstein e Gregor PiatigorskY se reuniram na década de 1940, contratados pela RCA de Hollywood. Mas o trio que estabeleceu a forma em disco e exemplificou o equilibrado balanço entre piano, cello e violino surgiu quase por acaso. Em 1905 o cellista catalão Pau Casals, recém chegado em Paris, conheceu o pianista Alfred Cortot e o violinista Jacques Thibaud, que viviam na vizinhança. Eles começaram a tocar por diversão, nos intervalos dos jogos de Tênis; mais tarde, passaram a tocar em salões particulares, para aumentar seus ganhos; e finalmente apareceram em disco, no ápice de suas carreiras internacionais. O Trio em Si Bemol de Schubert foi o cavalo de batalha deles, tendo sido tocado cinquenta vezes com intenso brio. Mais eloquente, no entanto, foi a intimidade calorosa que eles imprimiram ao maduro Trio de Mendelssohn. Com suas variações de estado de espírito, este trio foi escrito no auge da fama e da felicidade pessoal do compositor, pouco antes de sua segunda sinfonia, mas paradoxalmente, deixa revelar algo de tristeza e premonições de morte. A conversação entre os três instrumentos alterna-se do social para o filosófico, com passagens agradáveis misturadas às reflexões sobre o significado da vida, em nenhum lugar mais profundas do que na introdução de Cortot para o Andante, que é de tirar o fôlego. Na obra de Schumann, fervorosa e rebelde, são as cordas que lideram a busca, através da irresolução romântica, até a harmonia fraternal.
Casals deixou o trio em 1934, preocupado com a Guerra Civil Espanhola e por sua aversão ao fascismo. Os outros dois permaneceram na França, onde Cortot atuou como comissário para Obras de arte do governo de Vichy e deu recitais com Wilhelm Kempf numa exposição em Paris das esculturas heróicas de Arno Breker, um dos preferidos de Hitler. Perversamente, Casals o perdoou após a guerra, mas recusou-se a responder às cartas escritas pelo relativamente íntegro Thibaud ou a sequer encontrá-lo novamente. A música significava tudo para esses homens, mas não pôde curar todas as feridas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário