domingo, 17 de maio de 2009

Horowitz - Tchaikovsky - conc. p/piano nº1 - Brahms - conc. p/piano nº2 - Orq. sinf. da BBC - Arturo Toscanini - RCA(Sony/BMG)

A relação sogro/genro é delicada. Imagine-se a situação na qual o sogro é um católico italiano rígido e disciplinador e o genro é judeu, gay e esquizofrênico. O preço da celebridade para Horowitz e Toscanini foi o fato de serem obrigados a trabalhar juntos em público e em gravações. Eles não pareciam e nem soavam confortáveis juntos, mas no melhor momento deles, uma execução do Concerto de Tchaikovsky no Carnegie Hall, em 1943, eles levantaram mais de 10 milhões de dólares em bônus de guerra e receberam um agradecimento de Roosevelt.
Este disco resgistra um encontro anterior, tenso e confrontativo. A partir dos retumbantes acordes iniciais, o pianista passa a fugir do ritmo da batuta, seguindo sua própria pulsação , num estado de de anarquia que se aproxima do transe hipnótico. O regente faz o possível para manter ao menos uma ilusão de controle social, mas, no segundo movimento o pianista ultrapassa alegremente as madeiras que o acompanham, e corre com a orquestra atrás dele. O final é um palpitante suspiro catártico, como se as relaçoes familiares tivesssem sido restauradas de pronto.
Esta não foi a primeira vez que o concerto de Tchaikovsky foi usado como ringue de boxe, nem a última. Horowitz deixou Thomas Beecham patinando na estréia dos dois em NY, e Richter e Zimerman arrasaram publicamente Karajan em disco. O bombástico nessa música leva ao conflito.
Isso não se aplica ao concerto de Brahms. Horowitz disse a respeito: "eu nunca gostei desse concerto, e toquei muito mal". Além disso minhas idéias e as de Toscanini eram muito diferentes. Ambos disparam num andamento tão rápido, que aparentemente, esperam por um nocaute no 3º movimento. Nenhum dos dois mostra qualquer misericórdia pela partitura. É um inimitável registro da desarmonia humana, precioso em sua obstinada perversidade.

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