domingo, 17 de maio de 2009

Pablo (Pau) Casals - Suítes para Cello, Bach - EMI Londres, 23 de Novembro de 1936, Paris 2-3 de Junho de 1939.

As seis suítes para cello solo eram praticamente desconhecidas, até que um garoto comprou as partituras, numa loja de Barcelona, em 1890, e as escolheu como seus exercícios matinais, tocados antes do café da manhã, todos os dias durante o resto de sua longa vida. O garoto era Pau Casals, e seu sucesso na gravação colocou as suítes em circulação pelo mundo.
Com os olhos fechados no palco, Casals revestiu a música de uma dimensão espiritual que provavelmente nunca foi a intenção de seu compositor.
No auge da Guerra Civil Espanhola, ele tocou o ciclo para trabalhadores e combatentes do lado republicano. O dia mais feliz de sua vida, disse ele, foi quando tocou a Suíte em Mi Bemol para um público de 8 mil pessoas. Quando a República caiu, ele retomou as suítes como lamento e reprovação, recusando-se a pisar novamente em sua terra natal enquanto durou o jugo fascista. Ele gravou a Suíte em Ré Menor e a Suíte em Dó Maior em Londres durante a guerra, e as outras quatro em Paris quanto tudo estava perdido. Suas interpretações nessa época são animadas e descomplicadas, embora decoradas com um vibrato altamente pessoal, que ele chamava de "entonação expressiva". Essa liberdade é mais que metafórica. Ela eleva uma passagem simétrica na Allemande da Suíte em Sol Maior para além de sua forma barroca, atingindo uma modernidade vivaz e infinitamente flexível. Essa foi a maneira de Casals fazer a velha música soar com relevância de nova, o que raramente falha ao longo de todo o ciclo. A Sarabanda da Suíte em Dó Maior é tocada num andamento tão tranquilo que ninguém poderia imaginar dança-la, mas isso é prontamente balanceado pelas duas Bourrées que simplesmente saltam dos alto-falantes; a Giga que conclui a suíte volta-se novamente para dentro, uma dança final sozinha com seus pensamentos.
Casals pode soar às vezes pesado em comparação com seus sucessores, como as versões elegantes dos franceses Pierre Fournier, Paul Tortelier e Maurice Gendron, mas ele nos dá uma música de utilitária grandeza, dignidade e, sobretudo, esperança. É tanto uma performance quanto um testamento, um projeto para o futuro do violoncelo.

Um comentário:

Renatinho disse...

Eis que num domingo qualquer encontro essa informação em seu blog...recebi a indicação de procurar essas suítes com o Casals por parte do meu pai, depois de quase 33 anos de vida em um afastamento enorme entre mim e ele.
Parabéns pelo Blog!