domingo, 17 de maio de 2009

Strauss rege Strauss: Don Juan, Don Quijote, Uma Vida de Herói, Till Eulenpiegel, Japanische Festmusik - Orquestra Filarmônica de Berlim,

Richard Strauss foi o mais velho dentre os compositores ilustres a gravar sua própria música. Tal como Mahler, Strauss foi um dos melhores regentes de sua época, tendo ocupado o cargo de diretor musical em Berlim (1898-1918) e Viena (1919-1924) . Impassível no pódio, ele desprezava como amadores suarentos aqueles que pulavam e agitavam os braços. As suas entradas eram marcadas com o levantar de uma sobrancelha e o crescendo pelo levantar discreto do cotovelo. Nada havia de arrogante em sua atitude para com os músicos. "Por gentileza, toque como está escrito", era a sua reprimenda mais severa. Um observador notou: "Seu tom de voz é baixo, e ele pede as coisas tão gentilmente que não encontra objeções ou restrições; ao contrário, há uma troca livre de explicações, perguntas e respostas." Na hora do almoço, ele jogava cartas com os músicos, que consideravam uma honra perder seu suado dinheiro para o lendário compositor. A sutileza das suas mudanças de pulsação pode ser ouvida aqui em seus grandes poemas sinfônicos, juntamente com repentinas explosões de potência orquestral. O erotismo flui sem rubores na dança dos véus de Salomé e em Uma vida de Herói. Em Till Eulenspiegel, o senso de diversão é irreprimível. Strauss deve ter gostado de gravar; ele certamente apreciava o dinheiro que as gravações rendiam. Sua gravação de 1941 da valsa do Cavaleiro das Rosas, que lhe propiciou o suficiente para a construção de uma casa, é enriquecida pelo odor da auto-satisfação.
Àquela altura, Strauss estava politicamente comprometido e em estado de aflição. Ele havia a princípio aceitado um cargo cultural dos nazistas, mas foi surpreendido fazendo afirmações contrárias à Hitler em cartas ao seu ex-libretista Stefan Zweig. Sua nora era judia, sua mãe havia sido deportada e seus netos podiam ser detidos a qualquer momento. Sob essas nuvens que se acumulavam, Strauss compôs e regeu, em 1941, uma oferenda política - uma obra festiva para o segundo milésimo hexacentésimo aniversário da monarquia japonesa, repleta de orientalismos artificiais, em uma sopa de sentimentalismo. A execução aqui é tão proficiente - e histórica - como qualquer outra. Seja o que for que Straus tenha colocado em sua música, sua expressão jamais traiu uma só particula de emoção.

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