quinta-feira, 4 de junho de 2009

Bach: A Paixão Segundo São Mateus - Orquestra Philarmonia - Otto Klemperer - EMI, London Kingsway Hall

Quando Otto Klemperer gravou o grande oratório de Bach, estava com mais de setenta anos e ficava mais lento; de fato; seus andamentos eram tão lentos que os solistas tinham dificuldade de manter o fôlego. Numa pausa para o café, eles concordaram em que um deles tinha que falar. Dietrich Fischer-Diskeau se incumbiu da difícil tarefa.
"Dr. Klemperer", aventurou-se o respeitoso barítono.
"Ja, Fischer?"
"Dr. klemperer, eu tive um sonho esta noite, e nele Bach me agradeceu por cantar a Paixão, mas perguntou: "Por que tão lento?"
Klemperer fez uma careta, bateu na estante e continuou o ensaio, agora duas vezes mais devagar. Os cantores estavam quase sem oxigênio quando ele disparou:
"Fischer?"
"Sim, Dr. Klemperer?,"
"Eu também tive um sonho esta noite. E, no meu sonho, Bach agradeceu-me por reger a Paixão, mas perguntou: "Quem é esse tal de Fischer?"
Lenta ela ficou, mas nunca soou com segurança tão monumental, executada num estilo arcaico e imperioso que ecoa a versão de Mendelssohn quando este reavivou a reputação adormecida de Bach, em 1830. Dentro da grandiosa magnificência da narrativa, há uma flexibilidade sutil na pulsação de Klemperer, permitindo constantes surpresas e desafios na escultura das frases. Anatemizando da rapidez dos arautos da música antiga, a execução parece fiel, num sentido espiritual, às intenções do compositor.
Os solistas foram Elizabeth Scharzkopf, Christa Ludwig, Nicolai Gedda, Peter Pears, Walter Berry, Helen Watts, Geraint Evans e Ottakar Kraus, um time dos sonhos reunidos pelo produtor perfeccionista Walter Legge. A orquestra era a melhor de Londres, e algumas das passagens solo beiram o celestial. Fischer-Diskeau sempre se divertia contando a história de Klemperer; um dos solistas, porém, recusou-se a aceitar a imposição do maestro. Peter Pears, o companheiro de Britten, insistia em que os recitativos tinham que ser feitos num ritmo mais acelerado. Valendo-se da influência do amante, Pears introduziu suas alterações depois de aprovada a versão final pelo regente.

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