Embora não tão populares quanto os Concertos de Brandenburgo, as suítes (ou aberturas) orquestrais de Bach são essencialmentes mais significativas, pois antevêem a forma sinfônica. Tocadas até então apenas (ou talvez exclusivamente) por conjuntos sinfônicos, elas foram escolhidas, em meados da década de 1960, por um violoncelista dissidente de Viena que queria mudar a visão do mundo sobre o som vienense.
Nikolaus Harnoncourt, um descendente dos imperadores Habsburgo, buscou recriar os ritmos marcados e a sonoridade correta do período barroco em instrumentos originais que encontrava em lojas de antiguidades. "Ele nunca quis iniciar uma revolução", disseram seus amigos, "mas de qualquer modo ela acabou ocorrendo." O Bach de Harnoncourt era vivo, elegante, ágil e despretensiosamente dançável. Tinha credenciais acadêmicas e apelo de público, uma rara confluência de interesses, e atraia pessoas que, na sua totalidade, eram uns vinte anos mais jovens do que os frequentadores habituais das salas de concerto. Harnoncourt gravou os Concertos de Brandemburgo em 1963, e as suítes quatro anos depois, às vésperas de uma turnê pelos Estados Unidos que renderia a seus músicos dinheiro suficiente para largar seus empregos em orquestras sinfônicas e se dedicarem a recriar um passado musical dado como perdido. Menos obcecado pela velocidade que do que outros regentes de música antiga, Harnoncourt criou uma fusão na qual a plangência de suas flautas soava de forma interessante contra o timbre brilhante de suas cordas. No mais trivial, como na abertura da primeira suíte, ele se iguala a Karajan em perversidade perfeccionista. No entanto, quando os músicos começam a estabelecer contato uns com os outros, como fazem na "Gavotte", a música se acende e torna-se completamente amigável, puxando o ouvinte para a conversa. Este "ethos" participativo, mais do que qualquer viés acadêmico, foi o apelo especial da música antiga - antes disso, como em todas as revoluções, ele desenvolveu estruturas de liderança.
Homem reticente, com aparência de intelectual, Harnoncourt não foi talhado para aparecer como uma estrela da indústria fonográfica em fotos nas vitrinas das lojas de Salzburgo. Quando Karajan o baniu do festival por injustificada inveja, ele assumiu um posto na periferia do estrelato, ensinando prática musical histórica no Mozarteum da cidade. Muitos dos seus alunos acabaram formando grupos de música antiga, reconhecendo nêle o pai do movimento. Harnoncourt, após a morte de Karajan, regeu as Filarmônicas de Berlim e Viena e foi absorvido pela indústria da gravação.
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