quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mahler: Sinfonia nº4 - Orquestra de Cleveland (Severance Hall) 1966

Segundo o consenso dos especialistas, portanto confiável, a Orquestra de Cleveland foi responsável pelas melhores gravações feitas nos Estados Unidos na década em que Bernstein estava sob os holofotes em NY e Ormandy vendia muitos discos com a Orquestra da Filadélfia. A razão da excelência em Cleveland era Georg Szell, um homem de horizontes estreitos e comportamento rude.
De origem húngara ele estudou regência antes da Segunda Guerra Mundial na progressista Ópera Alemã de Praga e aplicou o rigor do velho mundo em Cleveland, mais ou menos da mesma maneira que o também húngaro Fritz Reiner fazia em Chicago. Sendo provenientes de um país que Mahler amava tanto, Reiner como Szell executaram as sinfonias do compositor muito antes do amplamente comentado ciclo de Leonard Bernstein, e por razões bem diferentes. Nenhum deles estava muito interessado em psicologia ou catarse espiritual. Para eles, Mahler era um meio de exibir os extremos da extensão dinâmica e a precisão absoluta de suas orquestras. einer gravou a quarta sinfonia em 1958 com a genuína soprano suíça Lisa della Casa e um amplo desinteresse pela busca filosófica de soluções. Szell, oito anos depois, defendeu uma perfeição nota a nota para a problemática frase inicial - feita de forma atabalhoada pelo assistente do compositor, Willem Mengelberg, e preguiçosamente mole pelo seu aluno Bruno Walter. Szell prendeu a frase numa régua metronômica, liberando assim o resto da sinfonia para fluir com liberdade ilimitada. O violino cigano do segundo movimento é apenas mais uma beleza, e não uma anomalia; o Adágio é comovente, e a solista Judith Raskin surge angelicamente e canta sem ironia o almoço das hostes do Paraíso, um dos textos mais desconcertantes de Mahler. Este é um Mahler sem indulgência, tocado tal como foi escrito, numa interpretação clínica. Muitos mahlerianos a consideram antipática, preferindo a selvageria de Bernstein e de Tennstedt ou a energia dos jovens - Abbado, Chailly, Gatti. Vários mahlerianos convictos gravaram esta sinfonia: Solti, Haitink (duas vezes cada um), Boulez e Klemperer, mas sob a regência deste último a gravação foi prejudicada pela antipática solista, Schwarzkopf. A de Szell é o padrão segundo o qual as outras gravações são avaliadas. É imaculada em todos os detalhes; sua perfeição é quase sobre-humana.

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