Com mais de quatrocentas gravações realizadas, "As Quatro Estações", do mestre-escola de Veneza, que vendia seus trabalhos musicais, representam o epicentro do gosto do público: são doces e descomplicadas. A escala vai desde a versão com grande orquestra, de Karajan, até o espartano conjunto de 16 instrumentos na interpretação do Drottningholm Baroque Ensemble da Suécia. A primeira a vender maciçamente foi a gravação de 1965, com o grupo I Musici, de Roma, com Felix Ayo como solista, tão bem-sucedida que teve que ser refeita quatro anos depois em estéreo.
As Quatro Estações eram ainda uma obra para iniciados, mas apenas até caírem nas mãos da Academy. No final dos anos 60, a orquestra de Neville Marriner abraçou um estilo que estava a meio caminho entre a suavidade tradicional e as ásperas investigações dos executantes radicais de música antiga. Tendo trabalhado com uma série de compositores "água-com-açucar", o grupo se fixou em Vivaldi e quebrou a cara. Nada do que eles tocaram durante uma sessão matutina, que custou muito dinheiro, pareceu agradar a nenhum dos músicos, e o clima começou a esquentar quando todos foram almoçar. A Igreja de São João é uma construção em estilo palladiano localizada no coração do distrito político de Londres, a cinco minutos a pé do Parlamento, uma área cheia de lugares tranqüilos para relaxar. Quando retornaram, vários músicos pareciam esgotados. Ao se acender a luz vermelha o violinista neozelandês Alan Loveday, solista da peça, pegou seu instrumento e tocou sem pausas durante quarenta minutos. Seu feito notável chegou às lojas depressa e começou a vender sem parar. Ele fez da Academy o produto de exportação musical mais procurado da Grã- Bretanha, e de Vivaldi um acessório para jantares festivos no mundo todo. Todo violinista importante gravou sua versão da obra. Isaac Stern tocou-a como se fosse uma peça de Mozart. Nigel Kennedy fatiou-a em faixas com a duração de música pop. Anne Sophie-Mutter posou para uma capa sexy, e Viktoria Mullova apareceu com um penteado maluco preso com uma corda de tripa. James Galway transcreveu o solo para faluta, cereal matinal disfarçado de música. Dentre as quatrocentas gravações, a de Loveday se destaca por sua atitude "que-se-dane", algo que qualquer músico deve sentir depois de entornar o caldo cinco vezes.
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