Em 1948, pouco depois de os comunistas atirarem Jan Masaryk por uma janela do edifício do Ministério do Exterior, Rafael Kubelik fugiu de Praga com a família, sabendo que nunca mais poderia retornar. O nome Kubelik era muito conhecido. Seu pai, Jan, fora um violinista famoso internacionalmente, que retornou para morrer entre sua gente, sob a acupação nazista. Rafael foi um regente maravilhosamente sensível, muito estimado pelos músicos de Praga e de Brno, e mais tarde em todo o mundo.
Em busca de asilo político, ele passou momentos difíceis em Chicago e no Covent Garden de Londres, até encontrar uma orquestra de alto nível internacional na Rádio Bávara e iniciar uma carreira de gravações na Deustche Grammophon. Homem alto e elegante, ele tinha uma enganadora habilidade de obter sonoridades quentes das orquestras, às vezes à custa da clareza dos ataques. Seu ciclo de Mahler erra para o lado da gentileza, e seu Brahms, embora belamente colorido, evita as profundezas mais sombrias, como se não quisesse enfrentar a angústia da audiência. Na música tcheca, entretanto, ele se desprendeu de todas as amarras e deu vazão à saudade. Nas horas mais escuras da Guerra fria ele declarou publicamente que gostaria de ver os tchecos recuperarem a sua liberdade e levou adiante a herança do seu país com fervor messiânico. A Nona Sinfonia de Dvorák, "Do Novo Mundo", escrita nos Estados Unidos com saudade da terra natal, adquire, nas mãos de Kubelik, uma urgência, um senso de passado conectado ao futuro, que suprime o tempo presente. Com a Filarmônica de Berlim, os meninos-prodígio de Karajan, ele extraiu uma execução de alto risco e reatividade explosiva dos músicos, que tocaram sentados na beirada das cadeiras. O primeiro flautista, o então jovem James Galway, repete o tema de abertura com energia contida, como se fosse explodir, caso tivesse que esperar mais um instante. As duas últimas sinfonias foram lançadas como as primeiras de um ciclo sinfônico de Dvorák pela DG (István Kertész estava fazendo outro pela Decca).
Kubelik se aposentou por problemas de artrite, em meados dos anos 80. Quando, porém, o comunismo soviético desmoronou, em 1989, ele voltou para a sua terra, curvado pela idade e pela dor, para reger "Ma Vlast" (Minha Terra) de Smetana. A última peça que ele regeu, antes de morrer em 1996, foi a Sinfonia do Novo Mundo.
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