Esqueça o cantor por um momento. Esta gravação começa e termina com o pianista. Am i Too Loud? (Estou Tocando Alto Demais?) é o título das memórias de Gerald Moore. Aos vinte e poucos anos esse garoto de Watford (Dakota do Norte) entrou num estúdio da HMV - o ano era 1921- e, quando deu por si estava acompanhando Pau Casals e Elisabeth Schumann. Ao longo do tempo, ele ficou mais agressivo. The Unashamed Accompanist, seu primeiro livro, colocou para o público a questão da parceria desigual que existe entre os recitalistas e os pianistas.
Moore trabalhou com todos os solistas famosos, mas o relacionamento mais importante foi com Dietrich Fischer-Dieskau, que, mais do que qualquer outro cantor, fez do Lied o centro de sua vida, e do ciclo de Lieder, um acessório metropolitano. O refinado barítono alemão encontrou seu parceiro ideal em Moore, homem que falava sem rodeios, enfrentava a música de frente e ia ao cinema após um ensaio particularmente difícil. Moore não dava nenhuma colher de chá ao seu famoso parceiro. Quando Fischer esqueceu a letra em "Auf der Bruck" e olhou para o piano implorando auxílio, Moore trotando num rítmo cavalar, disse, em voz baixa: "Sinto muito, estou muito ocupado cavalgando." Por trás do exterior duro, ele escondia uma sensibilidade aguda para o equilíbrio de uma frase musical. Moore resolveu se aposentar em 1968 - apaziguado por uma homenagem de Elizabeth Schwarzkopf e Victoria de Los Angeles cantando o "Dueto dos Gatos" de Rossini, em concerto de gala no Royal Festival Hall, mas Fischer-Dieskau o convenceu a retornar ao estúdio para gravar pela última vez um dos ciclos de Schubert (O canto de cisne deles, como ele próprio definiu). Moore tocou com espontaneidade dinâmica, e Fischer Dieskau, que havia evitado Schubert por muitos anos, cantou como se cada verso fosse uma surpresa. Às vezes, como em "Danksagung An Den Bach" (Ação de Graças no Riacho), pode-se praticamente ouvir dois corações pulsando em harmonia. "O ritmo, que (Gerald) particularmente elogiava em mim, era uma de suas principais virtudes", notou Fischer. "Ele caminhava de mãos dadas com seu parceiro, cujo suporte de métrica e respiração nunca era sacrificado. Ele nunca se perdia em detalhes, seguindo até o final a grande linha iniciada pelo compositor". Nesta ocasião, sabendo que eles nunca mais tocariam juntos, e aliviados da ansiedade das carreiras, a dupla soltou as rédeas do impulso e criou a interpretação de suas vidas.
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