terça-feira, 30 de junho de 2009

Haydn: Sinfonias Parisienses -Philarmonia Hungarica - Antal Dorati - Decca - Marl, Alemanha, Igreja de São Bonifácio, 1971

Entre aqueles que fugiram da Hungria após a invasão soviética, em 1956, estavam centenas de músicos. Oitenta deles formaram uma orquestra em Viena, mas lutavam para encontrar trabalho. O compositor Nicolas Nabokov, sobrinho do escritor, conseguiu patrocínio das Fundações Rockefeller e Ford e convenceu Antal Dorati a reger o conjunto. Dorati, de volta à Europa depois de um longo período regendo orquestras americanas, estava tentando convencer a Decca a deixá-lo gravar as 104 sinfonias do até então pouco comercial Joseph Haydn. Sua proposta coincidiu com a difícil situação dos refugiados; desse modo, um dos maiores projetos de gravação teve lugar.
A pequena cidade de Marl, na Vestfália, ofereceu residência à orquestra, e a Igreja de São Bonifácio tinha uma acústica transparente. Muitas da sinfonias foram gravadas pela primeira vez, e as execuções, embora usando instrumentos modernos, seguiram as recentes edições do biógrafo de Haydn, H.C. Robbins Landon. Os andamentos, leves e arejados, são completamente diversos dos andamentos lúgubres que eram a norma das orquestras alemãs e a substância despretensiosa das sinfonias é salutarmente diferente do peso de expectativa que as obras de Mozart e Beethoven carregam. O fato de uma sinfonia se chamar O Urso, e outra, A Galinha, e ainda outra, A Rainha, indica certa irreverência da parte do compositor. Mais frívolas e menos conhecidas que as Sinfonias Londrinas, que vieram depois, as sinfonias parisienses conquistaram os ouvintes através do disco e voltaram ao repertório de concerto por algum tempo. Uma delas, a Sinfonia nº86 em Ré Maior, destrói a identidade tonal de maneira a sugerir que o compositor testava o ouvido dos seus músicos e do público. Dorati e os húngaros se divertiram muito.
Na última sessão de gravação, em Dezembro de 1972, Dorati anunciou a venda de meio milhão de discos. Esse número rapidamente quadruplicou, tornando-se o maior sucesso da Decca depois do Anel. Aquela que já havia sido uma orquestra de sem-tetos gozou da fama de um dos melhores grupos europeus -até a Guerra Fria terminar e o governo alemão acabar com o subsídio, o que resultou na dissolução da grupo.

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