domingo, 28 de junho de 2009

Magnificathy: As Muitas Vozes de Cathy Berberian (Monteverdi, Debussy, Cage, Berberian etc.) - acomp. Bruno Canino (piano) - Wergo, Milão, 1970.

A voz mais versátil do séc. XX deixou poucas gravações. Cathy Berberian podia cantar de tudo, do barroco aos Beatles. Americana de origem armênia, não muito diferente de Callas, que era grega e americana, Berberian ligou-se a compositores de vanguarda e forneceu-lhes uma gama vocal que ia do rosnado ao guincho. Ela se casou com Luciano Berio, ensinou-lhe inglês e apresentou-o a James Joyce. Berio usou a voz dela como Matisse fez com a esposa, fazendo arte e, ao mesmo tempo, descobrindo um estilo. Berberian também conseguiu para si obras de Cage, Milhaud, Maderna e Stravinsky, que escreveu a "Elegia para John Fitzgerald Kennedy" tendo em vista a habilidade única que ela tinha de dar a tudo o que cantava um poder de comunicação irresistível.
Esta apaixonada desbravadora, uma estranha aos estúdios de gravação, pode ser ouvida principalmente em raras reedições de seus recitais radiofônicos. Neste programa em Milão, ela se encontrava no auge de suas habilidades e podê demonstrar todo o poder de sua versatilidade. Ela interpreta recitativos de Monteverdi, "Summertime", de Gershwin, superando Ella Fitzgerald, e uma "Surabaya Jonny" que é todo um mundo de mulher distante do de Lotte Lenya: Cathy não é uma incapaz ferida, e sim uma vingadora sexual. A composição "Stripsody" (de sua autoria), uma vocalização dos ruídos que os personagens fazem nas histórias em quadrinhos, é o clímax do recital, mas seu valor cult está na ambientação barroca de "Ticket to Ride" de Lennon e McCartney, a qual, além de ser hilariante, recontextualiza os Beatles como trovadores pós-medievais em uma paisagem imaculada. O disco deveria trazer um alerta: estas interpretações são inimitáveis - não tente fazer isso em casa.

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