sexta-feira, 12 de junho de 2009

Ives: Sinfonia nº4 -Orquestra Sinfônica Americana - Leopold Stokowski - CBS NY, Carnegie Hall, 25 de Abril de 1965.

Charles Ives foi um modelo de norte-americano. Milionário do ramo de segurança por esforço pessoal, ele escreveu música sinfônica que ia do amadorismo banal à intocável complexidade, e conservou a maior parte de seus trabalhos numa gaveta por décadas, com medo de rejeição. Depois de sua morte, em 1954, Leopold Stokowski, com seu olho para o espetacular, fez, em Houston, duas tentativas de estrear a massiva sinfonia nº4, que inclui coro, um conjunto de câmara separado e uma seção de percussão com sinos e gongos - e que inicia com o típico hino de igreja rural ("Watehnon, tell us of the nigth") ("Vigia, diga-nos como está a noite") que é cantado nos filmes B de faroeste, quando os bandidos estão para entrar na cidade. Integrar uma despojada simplicidade com a complexidade tonal das passagens seguintes, baseadas na sua espinhosa sonata para piano, é apenas um dos desafios desta peça frustrantemente difícil. Stokowski chegou a desistir duas vezes, desanimado com a escrita inadequada e as polirritmias contraditórias que jogavam a orquestra numa confusão cacofônica. Conseguir que todos tocassem juntos estava além da capacidade de um único homem. As coisas ainda pioraram. O segundo movimento caminha junto com os Pioneiros Peregrinos através de pântanos e florestas (e as discordâncias da segunda sonata de Ives) antes de encontrar a redenção nas comemorações do dia 4 de Julho e em algumas insinuações de jazz primitivo. A fuga é baseada em parte no quarteto para cordas de Ives, e o finale, elucidativamente, no hino religioso "Nearer My God to Thee" ("Mais perto de Deus").
Stokowski resolveu o problema empregando dois regentes auxiliares - David Katz e José Serebrier - que marcaram os contra-ritmos. De repente, tudo entrou nos eixos e Ives foi revelado como o criador da maior sinfonia americana, uma evocação errante, energética, não-discursiva e pouco escrupulosa do momento nacional. Para a regente, na casa dos oitenta anos, foi a apoteose do seu compromisso com a música moderna. A gravação foi feita ao vivo, por receio que a execução desta obra jamais fosse repetida, em razão do alto custo e da complexidade. Nenhuma gravação subseqüente capta o mesmo impacto causado pela descoberta de um continente musical.

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