Nos diálogos musicais , um instrumentista ou outro sempre tenta liderar, tocar mais forte, impor o ritmo. E quando um compositor famoso senta-se em um lado do piano, o protocolo exige que qualquer executante no outro lado dê a preferência. Não existe igualdade num duo. Esta gravação é uma rara exceção.
Em Junho de 1964, o pianista russo Sviatoslav Richter e sua esposa chegaram ao festival de Aldenburgh como convidados do fundador, Benjamin Britten. Mal havia se instalado no modesto hotel East Anglian, e Richter pediu para tocar para o público de Britten. O compositor encontrou-se com ele numa hora vaga no meio da manhã e, de repente, puxou um banquinho e sentou-se ao seu lado. Quando se manifestava em caráter privado, Britten considerava-o "o maior pianista de todos os tempos".
Ouça o mais atentamente que puder: você não será capaz de dizer qual dos dois toca o primeiro ou o segundo piano nas "Variações em Lá Bemol Maior", tais foram o respeito mútuo e a sensibilidade deles. Os críticos entortaram os pescoços para ver qual dos dois controlava os pedais, mas isso não importava, pois era um diálogo parnasiano no qual nenhum deles moderava seu ímpeto ou cedia ao outro, e sim, juntos, encontravam um plano elevado de discurso. De certa forma, era Hausmusik, uma recreação doméstica tocada por dois membros da família à luz de velas entre o jantar e a hora de dormir. Mas o fluxo e o refluxo das variações revelam sombras na mente do compositor, ansiedades de doença e morte que são ainda mais flagrantes na execução feita pela dupla no ano seguinte, da sombria "Fantasia em Fá menor", um dos últimos trabalhos do compositor. Os dois recitais foram transmitidos pela BBC e lançados pela Decca. Não há nada igual em disco.
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