terça-feira, 9 de junho de 2009

Prokofiev: Sonata para piano nº8 - Debussy: Estampes, Prelúdio - Scriabin: Sonata nº5 - Sviatoslav Richter - DG London

Richter foi a última das lendas russas a ser liberada para o Ocidente. Pianista culto de Odessa, de origem sueco-germânica, dotado de um timbre inimitável e um conhecimento musical enciclopédico, ele votou no pianista americano Van Cliburn quando foi membro do júri do Concurso Tchaikovsky em 1958, e teve que esperar mais dois anos até conseguir um passaporte.
Nervoso na América do Norte, cercado de vigias e assustado com a riqueza material que via, ele gravou em Chicago o segundo concerto de Brahms, com grande sucesso de vendas, mas que ele deplorava como "Um de meus piores discos...Eu perdi a conta de quantas vezes o ouvi, tentando achar alguma coisa boa." Presença rara em disco, suas melhores performances estavam confinadas às precárias gravações russas, até que, ao chegar em Londres, ele fez cinco apresentações públicas em dez dias, intercaladas com gravações - os dois concertos de Lizst, com a Orquestra Sinfônica de Londres e Kirill Kondrashin para a Philips, seguidos por um alegre recital solo de Debussy e Prokofiev para a DG. O impressionismo francês serviu para mostrar o fenomenal espectro de cores sonoras de Richter. Seu Prokofiev é tão intuitivo quanto notavelmente despretensioso, evitando qualquer demonstração de relacionamento pessoal com o compositor, cuja Sétima Sonata ele estreara durante os meses mais sombrios da guerra. A Oitava Sonata tinha ido para as mãos do seu rival Emil Gilels, e Richter considerava-a a mais rica do ciclo, "como uma árvore cujos galhos tem que suportar o peso de seus frutos". Esta execução é arrebatada, possessiva e emocionalmente desconectada, sendo uma descoberta tanto para o artista quanto para seus ouvintes, com harmonias que estão um tanto além da escala da cognição humana, um som como nenhum outro e um marco na história do piano. Richter disse que a sonata continha "uma vida humana completa, com todas as suas contradições e anomalias". A audição repetida confirma seu peso, bem como a genialidade de seu intérprete. "Eu não toco para uma audiência", costumava dizer Richter. "Eu toco para mim mesmo. Se obtenho alguma satisfação, então a audiência também ficará satisfeita."

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