sábado, 4 de julho de 2009

Bach: Sonatas e Partitas para Violino Solo - Nathan Milstein - DG - Londres, Fev. e Set. de 1973.

Certas gravações são definitivas no sentido em que desencorajam quaisquer novas tentativas. Mais de um violinista eminente declarou que jamais gravaria as sonatas e partitas de Bach depois de ouvir Milstein pela DG, de tão resplandecente beleza e tão intimidante autoridade.
Milstein foi o primeiro músico a sair legalmente da Rússia sob o comunismo, quando obteve permissão para viajar para o exterior, juntamente com o amigo Vladimir Horowitz, ambos como embaixadores do novo regime. Ao passo que o pianista se tornou um astro da noite para o dia, a visibilidade de Milstein foi modesta, e sua virtuosidade, discreta. Homem de curiosidade ilimitada, ele poderia ser encontrado, uma hora antes de um recital, numa livraria ou café, pesquisando um assunto totalmente diverso.
Rachmaninov, ao ouvi-lo tocar a "Partita em Mi Maior" de Bach, ficou tão empolgado com o leque de expressão que Milstein era capaz de extrair de uma única linha melódica, que transcreveu três movimentos da peça em uma suíte para piano para seu próprio desfrute. A abordagem de Milstein era despretensiosamente comprometida, como se ele tivesse algo de importante a dizer ao ouvinte, mas sem segurar a atenção deste um momento sequer a mais do que o necessário. Cada concerto era, para Milstein, um ato de reconsagração. "Eu nunca me apresentei mais do que trinta vezes por ano em toda a minha vida", contou ele ao autor deste livro. "Eu tinha a tarefa de me renovar entre os recitais, de trazer algo de novo para o meu público." Eu tive a oportunidade de ouvi-lo tocar com imaculada precisão e sem nenhum exibicionismo bem depois do seu octagésimo aniversário.
Gravar deixava-o nervoso, e ele desistiu de fazê-lo na meia-idade, concordando nesta gravação em tocar Bach em longos trechos, o que não permitiu que fossem editados ou melhorados. Ele tocava como falava, como numa conversa, e com os olhos brilhando, sempre atento às possibilidades que uma nova inflexão poderia trazer ao significado da vida. O início do Adágio da Sonata em Sol Menor é, nas mãos de Milstein, um mundo, e algo verdadeiramente irrepetível.

Nenhum comentário: