Numa tarde quente em Madrid, no final dos anos 80, enquanto motoristas presos ao engarrafamento ferviam ao volante, surgiu um som no rádio que acalmou a todos. Algum DJ brilhante, atento ao caos no trânsito, pôs para tocar um velho LP de um grupo de monges em suas devoções diárias. Sua intervenção causou uma queda acentuada na pressão arterial das avenidas e um sorriso beatífico nos principais cruzamentos. A EMI adquiriu a gravação em 1993 e colocou-a em casas noturnas para ser tocada no final das festas, mandando os jovens alcoolizados de volta para casa envoltos numa nuvem espiritual. "Canto Gregoriano" vendeu um milhão de discos apenas em um mês nos EUA. Três em cada cinco discos foram vendidos para pessoas com menos de 25 anos. Os monges receberam uma oferta de 7,5 milhões de dólares por uma nova gravação.
O que tocou os corações em todo o mundo foi a etérea imaterialidade do isolado mundo monástico e alguma coisa de primitivo na música que os monges cantavam. A padronização do canto da Igreja Católica é atribuída ao papa Gregório I, que morreu no ano de 604, mas parece improvável que ele tenha escrito tanto num papado de apenas 14 anos. Alguns ligam as melodias a uma fonte mais antiga: o Templo de Salomão, em Jerusalém. Se eles estão certos, os ritmos de corrida do final do séc. XX foram milagrosamente desacelerados por alguns dos sons mais antigos da comunhão do Homem com o Criador.
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