domingo, 12 de julho de 2009

Berg: Lulu - Teresa Stratas - Orquestra da Ópera de Paris - Pierre Boulez - DG - Paris

Alban Berg morreu de infecção no sangue em Dezembro de 1935, aos cinquenta anos, e com sua segunda ópera inacabada (e irrealizável, segundo sua esposa). Dois atos foram encenados em Zurique em 1937, mas Helene Berg jamais permitiu, enquanto viveu, que alguém visse os esboços para o final no qual Lulu, a "material girl" original, é morta por Jack, O Estripador, em meio a cenas de decadência sem precedentes.
A reticência de Helene foi provocada pela descoberta de um terrível segredo. Berg, enquanto escrevia Lulu (dentre outras obras) teve um tórrido romance com uma mulher casada em Praga. A partitura é cheia de sugestões do amor físico entre eles - as notas representando as inicias do compositor e as de Hanna Fuchs Robettin se entrelaçam em trechos estratégicos. Helene, sentindo-se traída conjugal e criativamente, trancou os esboços no cofre de um editor e, em seu testamento, proibiu terminantemente qualquer tentativa de expansão do terceiro ato. Os editores tinham outras idéias. Eles mostraram os esboços, bem antes da morte de Helene, ao competente compositor austríaco Friedrich Cerha, que completou a ópera semanas após o funeral dela. O sucessor de Helene fez uma tímida tentativa de defender sua vontade, mas acabou concordando com a promessa dos editores de que a versão em dois atos "continuaria disponível" ao lado da nova versão. A última obra-prima de Berg finalmente foi encenada em Paris em 24 de Fevereiro de 1979, e a gravação ganhou todos os prêmios de ópera naquele ano.
Lulu, hipnoticamente recriada pela provocativa Teresa Stratas, revelou-se como uma parábola da feminilidade do século XX, dividida entre desejos inconciliáveis de status, segurança e satisfação erótica - sempre uma amante, nunca uma esposa - sendo que nenhum homem está seguro perto dela. Foi a melhor de todas as interpretações da vida da soprano greco-canadense. "Eu estava com febre e tomava cortisona", recorda ela. "Eu não queria cantar, não podia cantar...fiz o que tinha que fazer: fiquei lá e cantei". Ela foi Lulu na essência.
O elenco de apoio foi notavelmente escolhido (Yvonne Minton, Hanna Schwarz, Robert Tear, Franz Mazura e Kenneth Riegel) e o regente, Pierre Boulez, manteve sob controle um tenso erotismo marcado por terríveis pressentimentos, a música mais sexy de sua vida. Este disco estabeleceu a versão em três atos de Lulu como um padrão universal, e sua conclusão, como uma das mais sombrias cenas vistas num palco de ópera em todos os tempos.

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