Seis semanas antes do final da Primeira Guerra Mundial, um jovem regente, Adrian Boult, estava curvado sobre uma partitura quando Gustav Holst entrou na sala dizendo que um amigo generoso havia conseguido para ele a orquestra e o coro do Queen's Hall para uma apresentação na manhã de domingo. "Nós vamos fazer Os Planetas e você tem que reger", exclamou o compositor. As partes orquestrais foram copiadas em sala de aula por alunas da Escola St. Paul, duas das quais tocaram a peça a quatro mãos para um não totalmente convencido Boult, que lutava para aprendê-la em poucos dias.
A estréia, em 29 de Setembro de 1918, levou alguns dos melhores músicos de Londres até uma sala vazia que estava sendo preparada para uma apresentação noturna. O grande ciclo celestial de Holst não exigia conhecimento astrológico. As faxineiras que limpavam os corredores largaram as vassouras em "Júpiter" e começaram a dançar. Em "Netuno", os músicos disseram ter ouvido sons de outra galáxia, com o acorde do coro feminino, que desvanece gradualmente, representando o último grau do etéreo. Os Planetas tornou-se a obra orquestral britânica mais executada e uma amostra espetacular para os aparelhos de alta-fidelidade. "Você se cobriu de glória", disse Holst, após a primeira apresentação desta obra-prima, e Boult continuou a regê-la por mais seis décadas. Ele gravou-a cinco vezes, a última e mais bem-sucedida alguns meses antes de completar noventa anos. Havia sempre certa impassividade naquele maestro inglês esbelto, de bigode espetado, que parecia o oposto da paixão. Boult, contudo, aprendera com seu mentor Arthur Nikisah como extrair um clímax maciço de um movimento curto, e suas variações de luz e sombra são literalmente de outro mundo. Cada planeta, em sua visão, exibe uma coloração distinta, e os ecos da guerra em "Marte" e "Vênus" não poderiam ser mais explicitos, refletindo o período turbulento que eles haviam vivido. Já "Saturno, o portador da velhice" não é um patético hóspede num asilo, mas um homem digno que viveu seu tempo intensamente e é capaz de se enfurecer ao vê-lo se apagar.
Em CD, a EMI juntou Os Planetas com uma gravação de 1970 das Variações Enigma, de Elgar, com a Sinfônica de Londres, a mais convincente gravação desta obra desde a do compositor e a de Toscanini. O par foi lançado como parte de uma série intitulada, sem exagero, "Grandes Gravações do Século". Boult, a última ligação com o renascimento musical inglês, morreu aos 94 anos, em 1983.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário