sexta-feira, 17 de julho de 2009

Gershwin: Porgy and Bess - Willard White - Cynthia Haymon - Orquestra Filarmônica de Londres - Simon Ratle - EMI - Londres

A história de Gershiwn sobre os duros amores entre pessoas de classe social baixa foi um anátema para as casas de ópera. Recusada pela esnobe Metropolitan Ópera House, ele teve uma estréia modesta em Boston em Setembro de 1935, e depois foi transferida para o Alvin Theater, na Broadway, para uma temporada de 124 noites. Quando o espetáculo perdeu seu investimento de 70 mil dólares, Gershwin caiu em desespero. Depois da morte do compositor em Julho de 1937, Porgy pairou no limbo entre o teatro comercial e a ópera de repertório, vítima do veredicto da primeira noite, dado pelo crítico Olin Downes, do NY Times: "O sr. Gershwin ainda não formou compeltamente seu estilo como compositor de ópera".
O Met cogitou sobre uma montagem de Porgy para as comemorações do bicentenário da Independência dos EUA, em 1976, mas recuou, pelas mesmas razões anteriores. Acertos foram finalmente concluídos em Fevereiro de 1985 (Simon Estes e Grace Bumbry nos papéis centrais), mas foi no verão seguinte, num contexto muito mais improvável, que a obra ganhou reconhecimento universal. Simon Ratle, o regente britânico em ascensão, tentava persuadir Glydenbourne, o festival de verão dos ricos, a se engajar com as classes baixas. Trevor Nunn, diretor da Royal Shakeaspeare Company e de muiscais de Andrew Lloyd Webber, adorou a história de Porgy; Willard White e Cynthia Haymon ficaram com os papéis-título. As seis semanas de ensaios na área rural de Sussex foram um festival de interação multirracial na verde e agradável Inglaterra. Na noite de abertura, as camisas com enchimentos se dissolveram em um choro irresistível, e o coro de Glyndebourne soou divinamente. Ratle marcou os ritmos com precisão, entre a ópera e o cabaré, e o elenco não teve nenhum ponto fraco. "Summertime", com Harolyn Blackwell, é cantada de uma maneira tão doce e elevada que parece algo praticamente fora de seu corpo; Bruce Hubbard é profundo, em todos os sentidos, no papel de Jake.
O movimento perpétuo de trens e navios prontos para partir é nervosamente inato ao ritmo de Ratle. Esta ópera saiu à sua própria maneira. A gravação, feita dois anos mais tarde em Abbey Road, luta para recapturar a emoção original, mas, de qualquer maneira, exprime um momento da história da prática musical em que a cor e a classe social deixam de importar, e os artistas e a audiência são reunidos pela humanidade que possuem em comum.

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