sábado, 25 de julho de 2009

Gorecki: Sinfonia nº3 - Dawn Upshaw - London Sinfonietta - David Zinman - Nonesuck - Londres

Henryck Mikolai Gorecki, um compositor desconhecido, entrou para as paradas em 1993 com uma sinfonia que vendeu 750 mil CDs. Seu finale, com a participação de uma soprano, foi composto com base nas inscrições feitas por uma garota na parede de uma cela da Gestapo. Usando sua timidez como um escudo, o compositor polonês de Katowice, que era manco, enfrentou uma mesa-redonda de jornalistas em Bruxelas, falando um vacilante alemão e mostrando-se incapaz de explicar seu sucesso. Minha lembrança é a de um homem pequeno e moreno à deriva, numa enxurrada provocada, sem querer, por ele mesmo. "Minha sinfonia não tem nada a ver com a guerra", insistiu ele, "é um lamento simétrico de uma filha por sua mãe, e de uma mãe por sua filha."
Gorecki escrevera sua Terceira Sinfonia dezessete anos antes, como uma resposta católica ao modernismo atonal, por um lado, e ao comunismo monocromático que mantinha seu país preso a num grampo de aço, por outro. Mais meditativa que minimalista, a sinfonia foi executada em festivais de música contemporânea, não obtendo mais do que o escárnio geral, e foi gravada duas vezes por selos regionais, sem muito reconhecimento. Foi preciso que se somassem a voz de Dawn Upshaw, a London Sinfonietta e um regente exepcionalmente sensível para que a transcendência espiritual da obra fosse reconhecida. O processo de gravação foi trabalhoso. As sessões foram agendadas para a Igreja de Santo Agostinho, em Kilburn, num movimentado cruzamento no noroeste de Londres, mas o engenheiro de som Tony Faulkner advertiu que o ruído da rua poderia arruinar a atmosfera e mudou-as para um estúdio em Wembley, com um considerável custo adicional. Foi dito à equipe que eles receberiam metade do pagamento devido e, caso não aceitassem esse acordo, a gravação seria cancelada; Upshaw foi aconselhada pelo seu agente a pedir dinheiro em espécie, em vez de direitos autorais. O produtor Colin Mathews, talentoso compositor e especialista em Mahler, levou a equipe para comer um curry barato na vizinhança, quando a última tomada foi feita, e todos esqueceram do disco.
No Natal do ano seguinte, o disco estava vendendo à razão de um por minuto. Gorecki tornou-se objeto de um leilão da parte dos editores musicais e fechou-se imediatamente, não produzindo nenhuma outra partitura ao longo da década seguinte. A sinfonia fracassou fragorosamente em execuções ao vivo; seu sucesso ficou confinado ao disco. Mas seu compositor podia voltar satisfeito para a terra natal, pois sabia que acabara de vender mais do que a maioria dos astros pop internacionais.

Nenhum comentário: