Na revolução da música antiga, o Messias se tornou um prato grátis para todos, com cada aiatolá da alegada autenticidade produzindo sua própria doutrina em disco. Você pode ouvir uma execução datada a carbono-14 regida por Christopher Hogwood, um coro de dezesseis cantores, com Harry Christophers; o manuscrito assinado por Handel no Hospital dos Órfãos, com Paul McCreesh; ou os tempos acelerados de John Eliot Gardiner. Você pode ouvir tudo, de fato, exceto as apreciadas versões grandiosas, que foram banidas pelos mulás, tachadas de heréticas e politicamente incorretas para nossa época de austeridade musical. No meio da sangrenta disputa, surgiu Nicholas Mcgegan, um inglês na Califórnia, com sua versão "faça você mesmo" deste oratório, que incluía todas as variantes conhecidas no tempo de Handel em um conjunto de Cds que permitia aos ouvintes escolherem em casa a sua combinação preferida. Há uma hora a mais de música nesta gravação do que em qualquer outra do Messias, e ela pode ser usada para recriar qualquer uma entre nove versões distintas. A ária "But who may abide the day of His coming" é cantada segundo a tradição rigorosa, por um contratenor, mas o álbum contém brilhantes alternativas para baixo e soprano, cada qual com diferenças substanciais, bem como um recitativo seco para aqueles que preferirem pular o sublime trecho de Handel. Quem for um enlevado handeliano tem ainda como prêmio a escolha entre duas versões de "He was despised", uma para contralto e a outra para soprano. O álbum, como um todo, é um dos mais divertidos jogos musicais de salão jamais inventados.
O liberalismo de McGegan foi, compreensivelmente, atacado por maestros fundamentalistas e menosprezado por seus críticos de estimação, mas a lógica é impecável e a musicalidade, inspiradora. Há trechos vocais sensacionais com a ainda desconhecida soprano Lorraine Hunt, e a meio-soprano Patricia Spence, o contratenor Drew Minter e um coral de Berkeley competentemente dirigido pelo musicólogo de campo Philip Brett, que tentou provar para todo mundo, sem qualquer evidência sólida, que Handel era definitivamente gay. Academica, fofoca e glamour - foi tudo o que o compositor encomendou.
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