Christopher Hogwood foi a face aceitável da música antiga, um regente que jamais permitiu que dogmas de autenticidade pairassem acima da musicalidade inerente. Quando ele convenceu a Decca a deixá-lo gravar praticamente toda a obra orquestral de Mozart, supôs-se que nada que ele fizesse espantaria os aficcionados habituais, que conheciam Mozart de trás para a frente.
O Concerto para Clarineta deixou-os morrendo de medo. Hogwood e seu solista, Antony Pay, partiram da idéia de que a obra não foi originalmente destinada à clarineta, um instrumento relativamente novo e agudo que ainda estava entrando em uso em 1789. O primeiro movimento foi escrito especificamente para o basset horn, em sol maior, e , dez semanas antes de sua morte, contou à esposa, Contanze, que estava orquestrando o rondó do finale para a Casset Clarinet, de Anton Stadler, que tinha uma extensão grave. Tocar a peça com a clarineta moderna seria, na opinião de Hogwood, anômalo até as raias do ridículo.
Pay tocou o concerto de forma doce e grave. Em mãos menos competentes, o basset horn soa como um rosnado, mas o som de Pay foi tão fluente, e o acompanhamento de Hogwood tão bem realizado, que esta versão acabou por estabelecer não só uma nova apreciação de uma peça já muito amada, mas também uma nova tolerância das lojas de discos para com a música antiga como um todo.
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