Este não pode ser descrito como um encontro entre iguais. Carreras estivera desesperadamente doente de leucemia, e os outros dois, com vozes maiores, se entusiasmaram em agradecer pela sua recuperação com um concerto beneficiente para o tratamento do câncer infantil. "Tanto Plácido como eu admiramos muito esse belo homem", disse Pavarotti, já sentindo a vitória num torneio de gladiadores (em um palco, postou-se um grupo variado de jurados, os resultados dos votos eram exibidos à platéia após a apresentação de cada ária).
Nenhum concerto dos três tenores jamais havia sido transmitido ao vivo, e as organizações da mídia foram lentas em aproveitar a oportunidade. A Copa do Mundo estava sendo disputada na Itália, e os tenores, todos fãs de futebol, cantariam numa única noite livre. A Decca, selo de Pavarotti finalmente concordou em investir 1 milhão de dólares, que seriam divididos entre os cantores e o maestro escolhido por eles, Zubin Mehta. Nada mal para uma noite de trabalho. Os tenores mantiveram-se rigorosamente afastados, cada um cantando alternadamente um número de sua preferência. Domingo teve seu clímax com "E Lucevan le Stelle" da Tosca, e Pavarotti com "Nessum Dorma" de Turandot. Os três se juntaram no final num medley de doze canções, com um arranjo de Lalo Schifrin, e, quando os aplausos continuaram, eles retornaram com "O Sole Mio". Mas a noite foi selada com um "Nessum Dorma" a três, o tema da Copa na televisão italiana. O delírio da platéia foi incontido. Quando o CD chegou às lojas, tornou-se o lançamento clássico mais vendido de todos os tempos.
Em que medida os tenores foram bons? Berthold Goldschmidt, um compositor octogenário que trabalhara em Berlim com os melhores cantores de ópera desde os anos 1920 e tocou celesta na estréia mundial de Wozzeck, telefonou-me durante a transmissão ao vivo para dizer que, em toda a sua vida, jamais tinha visto tamanha exibição de técnica vocal virtuosística.
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