Muito antes que alguém sugerisse o termo "crossover", o violinista clássico mais famoso do mundo se encontrou com o mais importante violinista de Jazz num estúdio de televisão da BBC para o Especial de Natal de Michael Parkisson, em 1971. Nenhum deles estava à vontade. Menuhin temia que Grapelli o considerasse "um colega inútil, que nunca tinha tocado Jazz e só conseguia se lembrar de uma melodia popular". Grapelli, sem formação acadêmica, preocupava-se com "o que Menuhin poderia fazer com a minha técnica".
"Antes de começar a tocar", lembra o produtor John Mordler, "Yehudi costumava fazer todo tipo de exercício de yoga". Grapelli olhou-o pasmado. "Eu vou fazer o mesmo que Le Père Menuhin", disse, ensaiando uma espécie de dança do ventre. "Talvez ajude!" Com o gelo quebrado assim, eles pegaram seus violinos e começaram a testar um ao outro.
Grapelli tocava livremente e sem partitura. "Stephane", disse Mordler, "tinha essa maneira maravilhosa de alongar ou encurtar notas e compassos e, de tempo em tempo, atacar uma nota ligeiramente mais baixa a então deslizar para cima até chegar à afinação correta. Yehudi não conseguia chegar ao mesmo grau de liberdade. Stéphane tocava geralmente de ouvido, mas Yehudi, pouco familiarizado com muitas das peças, trazia sua parte escrita, inclusive as "improvisações", cujo estilo, de outra forma, teria sido um tanto inacessível para ele". O repertório incluiu música da infância de ambos, nos anos 1920 e 1930 - Gershwin, Jerome Kern, Cole Porter. A simbiose entre eles veio mais da contemporaneidade do que do estilo. Os glissandos ofenderam os puristas, mas, quando uma dupla de violinistas de primeira linha toca "Nightingale in Berkeley Square", o trânsito pára, e as patrulhas do gênero são forçadas a desmanchar suas barreiras artificiais. De uma maneira ou de outra, este disco estabeleceu os parâmetros para os conluios interculturais. Grapelli ficou tão impressionado com a experiência que escreveu e tocou um novo "Minueto para Menuhin".
Para Menuhin, o disco foi apenas outro sucesso de vendas em uma vida cheia de triunfos. Para Grapelli, ele marcou a diferença entre a fome e a bonança. "Estas gravações criaram uma nova expectativa de vida para Stéphane", disse Mordler. "Ele me disse que essa foi a primeira vez em sua longa carreira em que um disco seu vendia aos milhares, e ele se viu, repentinamente, recebendo mais direitos autorais do que jamais sonhara. Por isso, fez questão de que o disco contivesse algumas de suas próprias composições. Normalmente, ele as escrevia no táxi, a caminho do estúdio". Uma dessas composições foi intitulada "Johnny aime", com a segunda palavra pronunciada como "M", um tributo disfarçado ao seu produtor de estúdio, que passou o resto de sua carreira como diretor da Ópera de Monte Carlo.
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